2021: Ano esportivo

Aproximava-se o fim do fatídico ano de 2020. Buscando maneiras de enfrentar o sedentarismo, o sobrepeso e a ansiedade, eu abraçara o remo como esporte desde o ano anterior. Após os 40 anos, sentindo os efeitos de uma vida excessivamente focada nos estudos e no trabalho, decidira levar a sério o esporte. Incursões recentes no basquete não tinham sido decisivas e eu já não estava disposto a retomar o esporte de minha juventude, a natação. Muito rapidamente senti-me identificado com a modalidade aquática.

Mas voltemos ao ponto de largada deste ensaio. Depois de uma sessão de remo no lago Paranoá, após deixar os remos no galpão, já me preparando para sair, fui abordado por um Célio que tinha o olhar inquiridor para mim. Ele não costumava conversar comigo. Não nos conhecíamos bem, pois meu professor era — e continua sendo — Fabiano.

Ah, claro! Quem é esse sujeito? Célio Dias, professor de remo, atleta e técnico certificado. Atua como uma espécie de assessor técnico da escola de remo, orientando alguns dos alunos que desejam aperfeiçoar suas remadas. Após nos cumprimentarmos, perguntou-me:

— Você está satisfeito com seu treino?

— Acho que sim.

— Quantas vezes você treina por semana?

— Três vezes! — Foi minha orgulhosa resposta. Esse sempre fora meu auge. Mas Célio continuou com seu olhar imperscrutável e prosseguiu:

— Quantas vezes por semana você acha que deveria praticar esportes? — Agora Célio me deixava inseguro. Minha expressão deve ter mudado rapidamente enquanto eu pensava em qual deveria ser a resposta correta. Cauteloso, respondi perguntando “quatro vezes?”. Ao que ele me respondeu:

— Você deveria praticar esportes sete dias por semana!

Não me lembro como continuou nossa conversa. E isso não me importou. De início, repeli completamente a proposta, reputando-a inviável. Mas isso ficou martelando minha consciência. Era dezembro e já fazia um ano e meio que remava com frequência e disciplina, somente tendo interrompido os treinos durantes os meses de março a junho, quando a pandemia fez tudo parar. Mas não conseguia reduzir meu peso, que atingira a medonha marca dos três dígitos, acumulados especialmente a partir de 2016. Ao virar o ano, decidi realizar, ao menos em parte, essa proposta, intercalando pedaladas aos dias de remo.

Assim começou o ano de 2021, que intitulei como “ano esportivo”. Há muito para dizer sobre estes tempos, mas hoje focarei apenas o aspecto atlético.

A Brincadeira

Tentando encorajar um amigo a trilhar o mesmo caminho que eu, sugeri a ele que gamificasse o esporte. O neologismo anglicista expressa a transformação em brincadeira, em jogo, das coisas, tal qual um video-game. Desde que comecei a usar celulares da Samsung, adotei seu aplicativo de saúde e fitness para isso. Trata-se do Samsung Health, que produz gráficos e mapas das atividades desempenhadas, permitindo anotar velocidades, trajetos, calorias gastas, entre outras informações, relevantes ou não. Enfim, uma multitude de dados desejáveis para aqueles que, como eu, gostam de analisar números e estudar desempenhos. Coisa de técnicos ou de nerds, sendo este último meu caso.

Já em março, encorajado pelo amigo Edinei, comecei a registrar tudo no Strava, aplicativo bastante usado por esportistas, especialmente corredores e ciclistas, em todo o mundo. Não é muito adequado ao remo, mas quebra o galho. Com esses dois instrumentos, fui registrando e brincando com as informações que resolvi organizar e totalizar hoje, dia 30 de dezembro, à guisa de revisão anual.

Remo

Escrevi há poucos meses sobre o remo este ano, então não irei me alongar. Devido a problemas de registro do Samsung Health, somente pude consolidar os treinos de remo a partir do dia de São José, 19 de março.

Como o gráfico mostra, a distância remada foi crescendo entre os meses de março a agosto, quando foram superada a marca de 100 quilômetros em um mês. Entretanto, fortes dores nas costas, desencadeadas em meados de agosto, provocaram a interrupção dos treinos de remo nos meses de setembro e outubro, somente reiniciadas em novembro, ainda gradualmente. Ao todo, em 2021 remei, ao menos, 600 quilômetros. Desde o dia de São José, passei 78 horas sobre um barco a remo.

Ciclismo

Sem ter uma bicicleta própria, comecei o ano pedalando uma Sense Activ de minha mulher. O tamanho do quadro não era bom, mas foi com ela que comecei a aventura nas pistas. Com ela pedalei cerca de 900 quilômetros, sobretudo entre os meses de janeiro a maio. Acho que nunca havia pedalado distância assim ao longo dos 43 anos anteriores de minha vida!

Passados uns meses, comecei a buscar uma bicicleta para mim. Um horror. Os preços mais que dobraram em um ano, devido ao aquecimento do mercado de ciclismo e à brutal desvalorização do real frente ao dólar. A dúvida era a modalidade de bicicleta a adotar. Mountain Bike, urbana ou de estrada? Havia também uma categoria nova, chamada gravel, uma espécie de cruzamento entre a mountain bike e a speed. A indecisão era grande, somente atenuada após ouvir curioso conselho de um amigo:

— Todo mundo compra chuteira e passa a vida inteira jogando futebol na quadra. Desencana e compra uma speed, pô!

Assim o amigo me convenceu a me aventurar nesse tipo de bicicleta. Percebi que gostava mesmo era de pedalar na pista ou em calçadas, raramente adentrando caminhos de terra. A vocação estava bem delineada, então faltava somente encontrar a bicicleta, o que aconteceu ao final de maio. Encontrei um anúncio de um modelo interessante, com quadro adequado a meu tamanho, seminova, em Goiânia. Para lá me toquei, morrendo de medo. Mas logo que encontrei o simpático dono os temores começaram a ser dissipados. Ao longo da conversa, enquanto eu olhava a bicicleta e ele subia e descia do apartamento para apanhar ferramentas e outras coisas, fui convencendo-me de que aquela seria a compra adequada. O preço já estava previamente acertado e o pagamento foi feito na hora. Era uma Sense Criterium Race seminova, com um mês de uso. Coloquei a magrela no transbike e voltei orgulhoso para casa.

Levou pouco tempo para eu me adaptar ao estilo de pedalada, mas a transição me custou fortes e persistentes dormências nas mãos, acompanhadas de fraqueza nos dedos, que chegaram ao ponto de me impedir de tocar o violão. Cheguei a pensar em abandonar o esporte, mas pesquisas na Internet e conversas com amigos me fizeram entender o fenômeno. Eu teria que reaprender a segurar o guidão. Desde então, foram mais de 2.400 quilômetros pedalados na magrela! Sem mais delongas, vamos aos números!

Começando gradativamente em janeiro, com 58 quilômetros, fui avançando mês a mês. O auge aconteceu em maio quando, empolgadíssimo com o emagrecimento, decidi ir e voltar das sessões de remo de bicicleta. Foram 464 quilômetros naquele mês, patamar nunca mais igualado, especialmente quando decidi não mais me aventurar pela avenida L4 de manhã cedo. A estabilidade das marcas ao longo dos últimos meses do ano dão sinal de que já posso ter atingido um patamar de saturação nos treinos. Nada mais razoável para alguém que atingiu uma média de mais de seis horas de treino semanal. Não sou atleta e tenho que trabalhar e cuidar de minha família.

Alguém certa vez disse ou escreveu que são necessárias milhares de horas para formar um especialista. Penso estar distante desses milhares, mas estou bastante satisfeito com as 172 horas de pedaladas e 3.536 quilômetros percorridos sobre rodas neste ano de 2021!

Alguns Resultados

Tudo começou com um encorajamento do Célio e com a vontade de perder peso. E deu certo! O gráfico a seguir não deixa dúvidas:

Meu peso corporal caiu consistentemente de janeiro a setembro. Daí para a frente, pareceu ter dado um ligeiro rebote. Mas o sucesso é muito gratificante. E o melhor: com a saída dos quilos entraram disposição, bom humor e boa forma. A luta continuará em 2022!

Esse post foi publicado em Esporte e marcado , . Guardar link permanente.

2 respostas para 2021: Ano esportivo

  1. Daniel disse:

    Parabéns pela vitória! Sucesso inspirador

  2. REGINA CÉLIA DA SILVA disse:

    DESCOBRIR QUE TENHO UM PRIMO ATLETA E VOU TERMINAR VIRANDO UMA ATLETA. DEUS TE ABENÇOE.

Deixe um comentário